quinta-feira, setembro 28, 2006

querido diário

oi, deixa eu te contar como é que foi meu aniversário
não dormi de noite sonhando acordado ansioso por querer que você me ligasse
não senti em nenhum parabéns o prazer maior por que não era o seu
ou por que no fundo sabia que não ia me ligar e que meu coração não ia relaxar até que me ligasse
de manhã fingi sorriso pra empregada e pra tia: sai um obrigado tão falso quanto meu caráter
de tarde, essa é uma das piores horas, sou obrigado a me concentrar em te esquecer, em esquecer cada canto que me fez feliz e triste daquele maldito lugar, daquelas abençoadas horas, de receber das pessoas que sabem da gente o mesmo falso parabéns cheio de penar e pesar, perto do fim e todos se segurando em bóias murchas, cada abraço só vai me lembrar que não é o seu
cada telefonema eu vou atender na esperança de ser o seu
mas cada voz, cada rosto, cada cheiro só sepuiltarão aos poucos minha esperança e cansado e abatido tendo de sorrir amargo, voltarei para casa e me darei o único presente que posso me dar: a solidão
porque assim não preciso fingir nada para ninguém vou a única coisa que sempre me abraça e no escuro me mantem
ah irmãos lumiere eu os amo pela sua invenção
por duas horas vou tentar esquecer o me faz esquecer de mim memso
o que me faz querer me matar
e de noite quando o dia já tiver passado e todos estiverem dormindo
sentarei em frente ao computador, nem no orkut vais deixar uma mensagem para mim
eu que não existo mais para você vou desejar levar isso as ultimas consequencias
e o que é que vai me segurar?

descaminhos

mas não fostes o meu anjo?
por um momento
não me reergueu em sua alma dourada?
só queria um pouco de carinho
nesta hora mais que atribulada
e me marcastes em espinhos
dignos de romances mal escritos
histórias mal contadas
dignos dos piores sorrisos
quando tem de aceitar com a cara cheia os descaminhos
as desventuras
e erguer de novo as máscaras:
-nao, tá tudo bem. não quer me ver? tá tudo bem...
desligo o telefone e me mato

quarta-feira, setembro 27, 2006

transformações

minha casa está morta
porque só eu a habito
que espécie de defunto
veste as próprias calças
sem usar o botão?
que espécie de pessoa
anda e dorme?
chora e sorri?
quando não sobram mais histórias
apenas lampejos de razões
que se transformam em mentiras
que saem por aí escrevendo solidão

2 dias

me lembro de um dia em que humildemente
levantei as mãos para o céu e agradeci estar vivo
de me sentir feliz, de uma forma inocente e frugal
lembrei desse dia
lembrei das estrelas deste dia
lembrei das borboletas
só esqueci os motivos...
ou melhor esses se perderam de mim
"- vai se deprimir por que as coisas não dão certo pra você?"
ela diz e me mata...
eu já disse, sou criança
quando eu me tornar adulto eu terei morrido
aí foda-se o mundo mesmo
fodam-se os outros
e o que me importar vai ser só meu umbigo.
faltam dois dias pro meu aniversário
e eu me esqueci do porque de comemorar isso...

quinta-feira, setembro 21, 2006

Cris X a mendiga

esconde em suas vergonhas mais um dia de sobrevivência
recebeu nas costelas o castigo por essa interferência

o cotidiano permite que vivas
o cotidiano aliás, não liga
se não incomodar apenas
podes continuar sendo mendiga

ela veio bem rasteira
mancava e dissimulava dores
ela veio bem faceira
exalava tantos mal odores

que a rua faz brotar assim numa pessoa
ela conta com o nojo como forma de defesa

esticou o braço e pediu
negada seguiu adiante
de novo suplicou e mentiu
em outro pouso mirabolante
viu num bolso encantado
o pretendido recheado
esticou mais uma vez a mão
e pegou todos os trocados
ela foi pega no ato
rangiu os dentes
animal entocado
brigou com torres gêmeas sujas
que só perdiam para as suas...

...do suor da luta
da lida dos dias
do pó das ruas
da sujeira da vida

na hora surgiu sua arma
antes, poço de fêmea
no que se transformara
uma caixa cheia
e sem vergonha que era
debaixo do vestido
aproveitou que como Eva
não usava tecido

não foi nem um troco que o valha
mas conseguiu,
venceu hoje
mais uma batalha....

escondeu em suas vergonhas
mais um dia de sobrevivência
recebeu nas costelas
o troco por esta indelicadeza

segunda-feira, setembro 18, 2006

lições pra vida

tudo que aprendi nesta vida
foi roubar
mentir
pra me proteger
fugir e lutar pra esquecer
matar todo dia
viver em hipocrisia
mudar sempre de pensamento: vaselina
ser indiscreto e sorrir
ao fazer as maiores atrocidades
dar tapas em momentos de carinho
e fabricar meiguices pra conseguir perdão
ou um quinhão pretendido

que o destino mais temido
é o do mendigo
que a vida mais sonhada
é a do magnata
que meu suor não leva a nada
se eu não tiver certos conhecidos
e que é preciso confiar em apenas uma pessoa
o josé ninguém
nascido em 31 de fevereiro
de mil novescentos e lá vai fumaça...

aprendi a gastar minha saliva
pra encontrar saídas
que quem pede perdão é fraco
é destratado
que o negócio é viver em paranóia
correr como jovens anômalos
em busca de qualquer conforto
de um lado para outro
que a pessoa com quem você transa
na verdade quer te foder
e que é melhor chorar a mãe dos outros
antes que seja a sua

aprendi a odiar
a cutucar as feridas alheias
a odiar
a odiar
em várias lições
essa foi a mais difícil de assimilar
hoje, sou doutor honoris causa
nesta derrota
de alienação e sofrimentos
de jogar botão em meu apartamento
e parar tudo
simplesmente não progredir
por que a vida
é isso aí
só isso aí

anjo caído em desgraça

existe algum lugar que eu possa me esconder
de verdade? da verdade?
do que me preocupa e me assola
me rasga e me tritura?
esse eterno poço de mágoas e dúvidas
de sonhos mal dormidos
e noites solitárias
cuspo a mesma ladainha
veja, o meu suor é o mesmo
eu uso o mesmo desodorante há anos
o meu cheiro é o mesmo
e eu não me suporto mais

existe algum lugar que cesse essa dor
de viver, de vir ver as cores brutas
dessa realidade
ou então estamos com manchas nas pálpebras
porque só consigo assistir podridão
os passeios mais bonitos que dão
são quando inspirados em causa própria
ela por ter perdido a perna
anda de joelhos e sorri
o câncer nunca mais voltou.
amputaram as asas de um anjo
e ele não soube mais andar
caiu em desgraça divina
caiu das graças de Deus
e sucumbiu
bastou 26 anos nesta terra
mal assombrada
e tudo ruiu
finalmente em sua última caminhada
ele sorriu, pois finalmete
ele partiu
o que mais desejara

sexta-feira, setembro 15, 2006

dããããããããããããããã

ando me especializando na arte de mascarar
e sepultar minhas dores
como posso dizer isso?
as pessoas não tão preparadas ainda pro meu mundo
seria chocante demais saber
que não teve um só dia depois do acontecido,
mais ou menos em Julho, que não pensasse em suicídio
tudo bem, de formas mais leves muitas vezes
mas um dia que passasse batido seria esperar muito?
juro, não era o que eu queria
viver em melancolia
só queria viver e viver
estar bem com o mundo. Deus, minha família, amigos
mas não me esqueço
não entendo, brigar comigo
eu que sou tão delicado
todos acham mesmo que sou gay
por não admitir viver em certos cenários
rinas de disputas? passo de lado
aproveito qualquer carinho que tenhas pra me dar
sou pedinte e mendigo nisso
minha baixa auto-estima me permite ver
que seres humanos horríveis são vocês
se coçando com a infecção alheia
e rindo de destinos podres
vivem num lamaçal e arrotam grama
eu, só quero fechar os olhos
será tão difícil assim entender isso?
e agora o que me resta?
dar uma de mago
esconder todo esse lixo
limpar esse gosto amargo
pendurar as derrotas escondidas no armário
e ir dormir, apenas dormir como todos fazem
e sorrir, como todos fazem
e fingir, como... ah vocês sabem!!!!!
e gritar dããããããããããã como um retardado

uma boa lorota

atenção gente para o pronunciamento
que todos aguardavam
o indivíduo que vos escreve
se encontra saído da UTI
se diz curado
finalmente, uhhhhaaaaaa
vamos dar voltas em torno de nós mesmos
e mortais de alegria
ele vai pra casa com um sorriso no rosto
mas vejam bem
o que é aquela apatia?
ah vai ver é só relaxamento
e não uma doença gravíssima

atenção gente que ele vai falar:
- eu lhes agradeço a companhia
agora voltem para as suas casas
o show acabou, eu estou curado!

e ele se vira e muda o rosto
o que era alegria
vira um sonâmbulo
o que eram planos
são jogados no esgoto
o que foi sorriso
não resta nem um pingo
não ficou nem um traço
daquela boa vida
sonhada e dita
o que foi que eu disse:
era tudo uma mentira

o comum

de piruetas ele segue em traços de desespero
pega-se contornando vidas alheias apenas por um cheiro
passa mal de vitrines bem boladas
pois se lembra
e recordar o que sempre lhe fora mais caro
hoje em dia é o que mais lhe dói
teria chance se fosse mais pneumático?
pelo sim ou pelo não hoje gurgita filosofias
mascaradas em comida
e dança conforme a música
entra na mesma roda de quem apontava e ria
séculos atrás
sente mesmo um enjôo do mundo
de negar o que comer aos outros
de seguir seu caminho olhando pra baixo
seu próprio umbigo
cego e surdo aos apelos:
- ei moço, moço, môoçooooo...
nossa, já se considerou humano
hoje, é só uma fagulha
uma dúvida em frente ao espelho

segunda-feira, setembro 11, 2006

diga ao povo que ficas...

é um fim eu sei
pode ser recomeço
mas antes de tudo é um fim
o princípio dessa história
não queres mesmo pegar na nossa mão e ir?
queres desistir agora?
serás nosso Pete Best?
ele tentou se matar depois
ele foi expulso
nós fazemos quase tudo pra ficares
você faz de tudo pra ir
eu choro
não era pra ser assim
somos todos amigos
estávamos todos sentados juntos
ne mesmo banco, no mesmo corredor
na mesma data, na mesma universidade
na mesma... se não mudares
e se não somos fortes pra te mudar
que o destino o seja
não abandones o barco de novo
essa história já vimos antes
não tem que ser assim
o mundo não são aulas e professores
assim como não são palcos e bares
são amigos...
somos amigos
de composição, de sonhos
de risadas
e o que mais digo pra te apertares o estômago?
pra dizeres monarquicamente: diga ao povo que fico
nada disso é fácil
cortar a carne podre pra não criar metástase
nunca é fácil
eu nem sei se quero não sendo assim
nem sei se vale a pena ser menos humano
vale tudo por um sonho?
ou talvez isso seja só uma desculpa
sua e minha
talves ambos tenhamos o cagaço de descer ladeira abaixo
e viver nossos sonhos
medo primordial deles não serem isso tudo
é, eu sei como é isso
tudo fora da minha cama me dá medo também

sexta-feira, setembro 08, 2006

nunca Papillon

caralho. que preciso dizer mais uma vez: solidão! não conseguir dormir de noite já é comum, agora espasmos de cochilos de vinte minutos e já acordo restabelecido? não, nunca, meu corpo paga por essa miséria das areias do sandman, o deus dos sonhos.eu reclamo, me dá mais, eu quero, eu quero. e como ver todo o resto se de cara já começa errado o meu dia? queria acordar e andar de trave a trave, de um lado ao outro do campo com a certeza de marcar o gol. de acordar daqui a algumas horas e levantar rumo ao seu encontro e ter um pouco de carinho, da nossa troca fundamental como seres vivos. mas não, e é aqui que tudo se quebra. é aqui o segredo do meu não dormir, não viver até... não engano meu corpo, não consigo mentir em minha mente, não esqueço que isso não vai acontecer. eu não vou ver mais você, eu não vou te beijar ou sentir um toque dos seus pés ou da sua mão. se ontem já era silêncio e decepção; hoje é menos ainda, não é nem a presença física.
que belo prólogo para um aniversário, o meu está chegando. e hoje faz exatamente cinco meses, não que eu esteja contando, que isso tudo começou...
que belos termos e dados. meu ibope acusa meu estado. 90% descrente. e a previsão do tempo não muda: gotas e mais gotas de chuva bombardeando a avenida, puxando carros e cegos perdidos ao mar. sabe, nós todos temos contas pra pagar. com a vida e tudo mais... todos temos de nos limpar de alguma forma
espero a minha redenção que sei não vem de você, por que você partiu há muito tempo atrás e não viu nem meus braços levantados te dando ciao. ou depois meu caminho de volta abalado e triste pra casa. a casa é minha, eu é que não moro mais nela, eu é que não sou mais o mesmo. eu é que não suporto mais me ver no espelho.
sabe, quando as larvas entram no casulo elas não sabem que virarão borboletas, elas se despedem de tudo que lhe é mais sagrado esperando um fim, o seu próprio!
e eu sei, eu não serei nunca como o Papillon! terminam aqui, nas mágoas, as minhas forças.

quinta-feira, setembro 07, 2006

miles davis e sozinho

poetinha me salve
eu que não curo minha solidão
poetinha você que disse
me adular em qualquer ocasião
e eu só aqui faço o quê?
se não esperar
e lamentar um olhar vazio
quero dormir e esquecer
mas hoje foi flórida
e nesse frio - floripa
hoje foi despedida
foi o fim
simples fim
de nunca mais ver
de não poder mais existir
de matar até a esperança de sorrir
de não saber mais
por que seguir
tonto e torto
ouço miles davis madrugada a dentro
e me lembro que sozinho todos estamos
os vivos na 58 miles
os mortos que desistiram de tudo anos atrás
essses últimos, meus amigos
"vivem" andando comigo
e sussurrando especialmente em dias assim:
- venha, nós contamos contigo
podes me achar louco, e até repetitivo
minhas lamúrias, meus vícios
mas a fuga direto para o fim
não parece por demais um alívio?

lindo limbo 1


o silêncio toca lá fora
o sopro que ainda queria
o cortejo passa as quatro
no meu terraço
são pequenas peças de xadrez
que vejo cair dos seres das nuvens
são pequenas peças de xadrez

espane o pó de dentro da caixola
leve ao universo dos intelectuais
lá, será mastigado e jogado fora
eles te usam e nem te dão esmola
te jogam na rua da amargura
e roubar, é a única promessa de se salvar

quem vai querer subir na torre
e só ver o céu de lá?
quem vai querer um rio de desgraça,
é pressa, pra que pular?

limbo
lindo-limbo
quero ver de perto e rir de ti
eu que peço clemência a mim
(eu me desgraço)
lindo-limbo

lindo limbo 2

sabe. é triste saber que o mundo todo dorme
e você não
que todos riem em seus sonhos
e você não
sonho acordado com o dia que dormirei em paz
finalmente
volta aos meus sentidos
esses desejos aflitos
é nessas desgraças que me sinto mais eu
é nesse denso esgoto que viro
me viro e me remexo
aqui bato no peito e grito:
minha lama
eu a criei e consumo
do meu suor, das minha lágrimas
dos meus cabelos e desejos desesperados
de verões com os pés engessados
e invernos de arder narinas
quando tudo que mais faço na vida é chorar
olhe pra mim
não vês que o estou o fazendo agora?
o que me dá?
saudade do mundo
dos amigos
de amores
de tudo
até de ser feliz
frugal, e lívido
tudo que esqueço a esta hora lúgubre
é pântano a minha alma
é pântano o meu visco
denso você disse
é o quinto estado da matéria:
o meu limbo

redenção? primeiro passo

e que saudades dos meus amigos
como foi bom vê-los aqui
como chorei em alegria
como me esqueci de repente
das minhas dores nas costas
engraçado como a noite ficou mais triste sem vocês
engraçado como vocês faltam em mim
um me diz: -sabes o quanto tocastes a nossa vida também?

engraçado como as outras que ficaram não são nem faísca de você
não tem um pouco da sua classe
nem um pouco de seu desespero
elas assim são até nojentas
ando numa fase de odiar todas elas,
as cromossomo XX
salvo ela e você minha amiga
você então meu amigo,
que saudades de você
do seu bem estar
de só estar com você, sentir essa felicidade
desse olhar de menino tão confuso e certo de tudo
me questionando, não me entendendo
como é mesmo que continuio a viver?
eu mesmo me pergunto todos os dias...
eu mesmo...
como ainda vivo?

hoje eu sei, é por vocês
e por essa moça aqui em frente de vermelho
e com essa buchecha que todos:
TODOS AMAM
só eu sem esperança-idiota-e triste
reneguei esse presente da vida
eu idiota, mas tudo se resolve
hoje tô voltando ao meu caminho
ver vocês, viver com ela
pensar em vocês e fazê-la o mais feliz possível
dar um pouco do néctar de vida de volta
que ela me emprestou por estes dias
e que eu visse nos seus olhos minha recuperção
desse ser praga e rançoso
por vocês vejo que ainda tenho redenção
só por vocês!

terça-feira, setembro 05, 2006

vaselina

liberar podridões madrugada a dentro
por medo de morrer sozinho e esquecido
segurar varões e vontades
ímpetos de tragédia
por sonhos não vividos
ser triste e feliz
usar máscaras a cada dia
rodopiar mais que planeta
e cair em centuriões já navegados
se sentir pela enésima vez só
eu devia arrumar um amigo japonês
ele haveria de estar acordado a esta hora
eu que não consigo dormir
com medo de aproximar mais rapidamente o próximo dia
eu que não consigo viver
estancado em carinhos negados e criadores de apatia
eu que me atenho ao céu
a terra
até ao capitão planeta
me salve disso por favor que já não aguento mais
não me prendo mais em nada
são todas algemas de algodão doce
e meu corpo e feições: vaselina

velho quadro

retire qualquer som, calma
pense duas vezes se não estraga
altere a transmissão para pegar os dados corretos
tenha a dedicação de puxar os verdadeiros sacos
siga em frente, batendo em transeutes
esqueça de mim que não sou importante
algo em sua vida quebrou quando desviastes o olhar
quando se deixou vislumbrar apenas temporário
negue tudo aquilo que um dia vai ser
cuspa o sangue e a bala que irá chupar
desça,
desça,
até o fundo da sua alma e não encontrarás nada
ninguém lhe habita nestes dias
o frio que tomas é velho parceiro: é solidão
meu velho mancebo
verde de gelereiras glaciais
e o que vira antes, adultos infestados de sorriso
fora apenas um quadro mal pintado
e hoje pendurado torto na parede

sexta-feira, setembro 01, 2006

brenda

ei menina
como voou
como foi que
o tempo cresceu
tanto assim

onde estava?
do seu lado
mas não vi
podia ter chamado
minha atenção

já passou
mas nem tanto
tens tão pouco
de sua criação

ei minha menina, eu vi
você maior que eu
ei minha menina sabe
que nem tudo está perdido

se Deus quiser
que seja assim
que seja então

cuidado com a minha menina, viu?
ela não sabe mas é especial



escrito em 2000 depois de uma visita que fiz
é incrível ver um ser-humaninho se desenvolvendo
um beijo pra você
sempre vou te amar incondicionalmente
seu irmão

republicado para que ela possa ler aqui

cuspe bruto

que é isso? Esse medo da vida que faz estranhar os pensamentos. quando até se deseja a morte, bem, somos maquinados a achar tudo errado, a felicidade é utópica, os gritos não-ausentes e o que é ideal está num pedestal na prateleira pegando poeira enquanto assistimos qualquer outro programa ou bobagem dissimulada e filmada. Apenas para pequenos mosquitos não nos atrapalharem o trânsito, apenas uma aspa mal-interpretada, é claro que sofro, é claro que sinto, mas quase desejo o pior que parece o oposto, às vezes quem sabe pode ser até melhor se fuder em algum momento da vida, mas até isso é divagação e contraditório. Eu quero mesmo é me solidarizar com vossas vidas, o que ninguém fez por mim… talvez me sentir superior por isso, mas será que estou enganado? Ou sou apenas mais um merda morrendo e rindo nesse mundo maldito (não canso de dizer isso: mundo maldito, que se foda as suas leis, puto) e quem tem o direito de fazer mal à alguém, já não basta esta vida de sofrimentos, ou se pode dizer que não há pior que a solidão ou a certeza do fim, com todas as letras:
VAMOS TODOS MORRER

Rio nebulosa

os táxis andam a vapor no Rio
na noite chuvosa e clara
a lua é o calor no frio
os pingos grossos e a chuva rala

faz calor no Rio
umidade que o tempo chora
faz calor e frio
como se treme agora

um homem sai do rio
senta na beira e chora
o coração frio
por tudo que acontece agora

uma gata-fêmea no cio
o dever de ir embora
fuga no veículo
mais uma menina chora

duas almas de coração vazio
dois corpos de alma que chora
se encontraram no Rio
viveram sua história

e assim segue o Rio
do tempo de agora
de amores, calor e frio
cenário dessas histórias
palco dessas histórias
criando essas histórias

escultor de mágoas

nunca soube lidar bem com os meus fracassos
os ergo em medalhas esculpidas em aço
carrego-as junto ao meu corpo
cada vez mais cansado e pesado

ando metros que parecem léguas
sinto vacilar as pernas
lembro de todas as desventuras (minhas)
penso que essa mágoa será eterna

os braços duros de tanto carregar
achar que não há mais força mas há
para esculpir outra medalha e carregar
carregá-la até me entregar

quando olho para frente não consigo ver
é tanta mágoa para dissolver
quando olho para trás consigo enxergar
claramente, cada pecado do teu olhar

é claro que mesmo amargo continuarei
a lembrar de suas ações ordinárias
pais para sempre serei
um eterno escultor de mágoas