Eles tinham apenas uma noite. Contra a sua vontade o mundo os destacaria, cada um para um lado diferente. A partir de então, as noites no morro seriam mais solitárias para ambos. Eles sabiam disso, eles eram inteligentes o suficiente pra entender disso. E eles sabiam que aquela era "A" noite.
Ela se vestiu com a sua saia verde degradé que ele gostava tanto. Ele lhe disse isso repetida vezes ao longo desses anos. Já ele, fez a barba, dessa vez por ela, ambos sabiam que aquela era uma espécie de despedida. O morro mudaria de dono, rachado por poderes maiores a ambos. Só poderiam se encontrar no asfalto, nada os impediria... Mas ambos sabiam que ali era o fim de algo, então que fosse comemorado.
Ele chegou antes, preparou a mesa pro jantar, na verdade, ele não conseguiiu nem sequer dormir pensando nas risadas de ambos...
Deitado na sua cama ficara decidindo se a ansiedade era pra lhe ver ou por não lhe ver mais a partir de então...
Ela chegou deslumbrante, um pouco desconcertada, não sabia bem o que ou como fazer, só sabia que tudo iria mudar...
Ambos se reencontraram tímidos, permaneceram em silêncio se estudando, como se por acaso não falassem, o inevitável não fosse acontecer.
Ele decidiu que esta noite teria de ser perfeita. Por que estragá-las com mais palavras? Ficava apenas olhando, passou a mão pelo seu ombro, pelo seu rosto e disse adeus do seu jeito, sem dizer.
Ela entendeu e retribuiu cortês essa decisão, também não disse nada, suspirou segurou na garganta aquelas últimas palavras que tinha há tanto ensaiado. Aquelas palavras de consolo eram somente pra ela a partir de agora.
Avançaram a noite nesta festa macabra e o tempo os pegou como crianças no berço, com cuidado, com carinho e sempre atento.
Era chegada a hora... ambos seguiram seus caminhos, como fariam normalmente, como antes, se despediram como sempre faziam. Um beijo na testa e votos de boa vida.
Ela que sempre foi mais esperta do que ele deu um passo pra ir embora
Ele que sempre foi lento queria lhe pedir pra FICAR, mas olhou pra baixo lamentando seu destino
Ela que sempre foi mais forte do que ele, correu de volta
Ele vibrou com aqueles pés caminhando em sua direção
Sabiam que não tinham mais tempo
Sabiam que não teriam mais o amanhã
Sabiam que seus corpos queriam um adeus
Se abraçaram para toda a eternidade, aquele gesto não ia mudar nada
A humanidade iria continuar do mesmo jeito, seus caminhos seguiriam em sentidos opostos.
Mas pra sempre teriam aquele momento pra voltar, para aterrisar seus pensamentos, cansados da longa viagem...
Ambos estão presos até hoje naquele abraço mudo inesperado, emocionado, em que se cheiravam e permaneceram imóveis colados cada canto que podiam de seu corpos
ambos FICARAM lá para sempre (pelo menos em alguma realidade alternativa).
sugestão de audição a este conto:
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