Descobri que só sou homem por causa do Flamengo...
Quando eu era criança falaram, homem não cruza as pernas
assim, e eu sigo cruzando.
Homem não chora, e na primeira vez que fui ao cinema numa matinê
no amado e extinto Palácio, me debulhei em lágrimas quando o E.T. morria. Na
semana seguinte, pra comprovar que não era homem mesmo, chorei com a pobre da
mãe do Bambi...
Homem que é homem gosta de cerveja... nope, nenhum álcool,
nem bombom de rum eu gosto (mas sem moralismos, só não gosto do gosto mesmo, amo
meus amigos ébrios).
Homem tem que “caçar” mulheres indiscriminadamente. Eu acredito
em amizades entre homens e mulheres sem necessariamente terem um vínculo sexual.
E minhas melhores amigas sempre foram mulheres (mais uma vez, sem moralismos,
também se pode e acho saudabilíssimo relações de amizades afetivas que envolvam
sexo).
Homem cospe no chão, coça o saco em público, é sujo, fala
alto, arrota alto, fica brincando de porrada com os amigos, mexe com todas
mulheres na rua... Jesus, minha mãe me criou pra ser seu príncipe, desculpa,
mas não rola ser isso aê não...kkkk
Enfim, descobri desde cedo que não era homem exceto por duas
razões... ter atração física pela figura e traços consolidados como femininos (o
quê não me difere de algumas lésbicas) e ser apaixonado pelo Flamengo (o quê
também não me diferencia de algumas lésbicas rsrs)...
A primeira vez que entrei no Maracanã e vi aquele verde gramado,
foi como ver o Éden – pra quem acredita nessas metafísicas... passei por gente
me apertando nas filas, lugares fedidos a mijo, gritos, confusões... mas, aquele
momento que passei pelo corredor escuro e saí na arquibancada pra ver aquele "jardim" foi emblemático.
Em seguida, vi desbravar aquelas camisas rubro-negras em contraste com o
verde. Que estilista do mundo conseguiria harmonizar tais cores? Mas ali,
naquele templo eu senti algo do que foi uma experiência sagrada pra mim, eu
amei aquele time, aquelas cores, aquele símbolo e amo até hoje, umas vezes com
mais paciência outras, com menos...
Flamengo é o nome social que quer dizer “improvável futebol
clube realizador de milagres”...
A cultura do ser Flamengo – porque é mais do que torcer, é
viver na alma – é acreditar no impossível, nos sonhos. É não ter nenhum motivo
moral pra seguir, mas, dar de ombros e se levantar assim mesmo. Ser flamengo,
pra mim, ajuda a me decidir entre continuar respirando ou não algumas vezes...
Quando eu nasci, meu pai mostrou meu pinto em orgulho pelo
hospital se gabando pelo filho macho que teve. Eu cresci e só fui decepção pra
ele...
E de todas as coisas ruins que ele me provocou eu o perdôo, ele e minha mãe (essa sim, me deu mui mais) me deram o Flamengo!
E isso é ser homem, homens perdoam...