sábado, junho 13, 2015

um invisível

Eu sonhei que havia tempo de dormir
que uma cama receberia meus sonhos e cansaço
mas a cidade cobra caro sua passagem
só sujeito homem para ficar aqui entre os carros
ontem eu vi uma senhora ser atropelada
gritou como um porco embaixo da carroceria
eu não pude ajudar,
ontem, eu queria descansar
mas as obras da manhã não puderam deixar
o caos vencerá,
e eu, uma poeira neste cosmos
ando daqui pra lá
sem atenção
sem importância
o homem invisível (como tantos outros)
cheio de rancor, ódio e dor nos ombros
um estômago pulando
além das tratativas e negociatas mal feitas
é isso que basta a um ser humano?

sexta-feira, maio 29, 2015

Mais estranho que a ficção

Adoro esse filme: Mais estranho que a ficção.

))))))))))) Atenção SPOILLER((((((((((((((

A história de um sujeito que passa ouvir alguém narrando a sua vida e que em dado momento, essa voz da narradora prevê a sua morte, sendo que, a partir daí ele decide e muda completamente de vida... O que mais gosto do filme está exemplificado no final. Em um diálogo entre a narradora que não sabia escrever até então a história de um homem que existia e um professor de literatura. Ela decide poupar seu personagem e mudar o final do livro e ele pergunta a razão disso, no que ela diz:

- Eu entendi que não podia matá-lo,... porque é um livro sobre um homem que não sabe que está prestes a morrer e morre. Mas, se um homem sabe que vai morrer e morre assim mesmo, morre voluntariamente, sabendo que poderia impedir..., não é o tipo de homem que quer manter vivo?



Adoro isso no personagem, ele se despede da sua vida e mesmo assim faz o que tinha que fazer, entregando-se à morte...



No final ainda tem em off uma excelente cena que reproduzo... é quase uma auto-ajuda pra mim, que gosto de rever sempre quando preciso lembrar de alguns porquês. Eis a cena final:


sexta-feira, março 27, 2015

segunda-feira, março 09, 2015

Amiga, antes de mais nada

Amiga, antes de mais nada, saudades

não como quem diz: bom dia, boa tarde
saudades como quem pula pela janela
e se segura por um fiapo de roupa enganchado
assim são minhas saudades de você
uma urgência e um tornado de sentimentos envolvidos

em segundo, uma história...
Dizem que o João Gilberto é o ser mais cheio de comportamentos anti-sociais que se tem notícia. Certa vez ele, convidado para uma festa, foi à festa, apenas para na porta do apartamento, dizer ao anfitrião que agradecia o convite, mas não iria poder ir ... dando meia volta e indo para casa.


Vi sua postagem, adorei seus textos, tenho lido os que você escreve.
Mais ainda, gostei de figurar na sua memória.
Mas ando calado, a vida tem sido mui pragmática, e ando lutando pra, pelo menos esse ano, ser mais pé no chão.

é preciso, é necessário.. preciso dar atenção a outros aspectos mais cinzas da vida
guardo meus nanquins para outro momento...

volta e meia eles se soltam, fazem uma balburdiazinha, mas tímidos, voltam ao estojo...

minha arte anda calada, bicho ferido... de um ponta aguda, de uma adaga

por isso, venho aqui, te dizer, que não venho...

peço mil desculpas, ando escrevendo o menos possível para não surtar

sabendo que isso me causa mais mal e que um dia uma outra vida há de cobrar essa conta

mas foi preciso...

o fim da banda, o fim... eu sei que estou entre começos...

Mas neste momento, busco e sinto meu silêncio...
um enganoso sossego

que um dia acaba, eu sei...

mas até lá é bom fazer psiu pra minha alma

deixa ela quietinha aqui..

pode ser?

você continua o que sempre foi pra mim...

sábado, fevereiro 07, 2015

um segundo de alívio

Eu vou ali
pegar um punhado de conforto
tentar no esforço
me sentir menos infeliz

não dá pra ser sempre assim
seu rosto é belo como o torso
nú, eu quero esse bolo
todo só pra mim

quem sabe dessa forma
se manda essa nuvem embora?
quem sabe sai de mim
o que me deixa infeliz?

acho difícil
meio impossível
carregar uma mancha por anos
e limpar como que em feitiço
mas você consegue, em momentos
me livrar um pouco de tudo isso
eu sou agradecido
um segundo de alívio
em séculos que mal consigo
me livrar da água turva
eu sequer respiro.

sexta-feira, fevereiro 06, 2015

era pra ser... simples assim

essa é uma palavra de tristeza
dentro de um escrito unido por sílabas de tristeza
com letras solitárias forçadas a caminharem juntas
sabendo que o destino é um poema mal acabado

esse é um respiro
um falso início de um novo parágrafo
chega uma idade e todos já sabemos
todos os truques dos magos

a noite avança em desperdício
era um homem, um ser cheio de mágoas
que caiu da ponte e o mar levou

era uma história para ter um fim feliz
mas ninguém sabe ao certo
se, e quando é o fim de histórias assim

era pra ser eu ali naquele quadro
na foto feliz
mas não gosto de mim mesmo
e dia sim e dia não nem quero estar vivo
quanto mais, quero algo específico

era pra ser... simples assim

terça-feira, fevereiro 03, 2015

Ela (Crônica - conto)

Passo por ela na portaria de serviço do prédio, ela está terminando de fumar um cigarro. Alguns detalhes visíveis e a idade me fazem concluir que sua história, cheia de altos e baixos, teve mais momentos tristes...

Não a cumprimento, eu evito pessoas e seus olhares, julgamentos, falsos sorrisos. Não é medo de me machucar com suas reações sociais ditas normais - nunca fui de saber como me comportar direito em cada situação mesmo. É o inverso que me incomoda...

Cheguei no elevador e ele não estava ali, aflito apertei mais de uma vez o botão. Não acelera o elefante de metal, mas me faz sentir que tenho algum controle e talvez possa evitar acontecimentos desnecessários...

Tarde demais, a moça volta de seu momento relaxante. O cigarro havia terminado, de volta à realidade. Dá boa noite, eu murmuro qualquer coisa de volta que se entende como equivalente à um aceno gentil. Seguro a porta para ela passar, entro e aperto o botão do meu andar.

O fone de ouvido, a minha cara de impassível não foram suficientes ... ela precisava desabafar, exclamar. E que situação melhor falar com um desconhecido que nunca te vira antes, em um prédio onde as pessoas não se importam com ninguém? Começou:

- O cigarro... -  e fez uma pausa dramática pra assegurar que eu estava preso na sua rede de atenção.

Eu tirei um dos lados do fone e olhei para ela. Ela tinha passado pelo meu teste inicial, se vai valer a pena ou não ouvir as pessoas. Quando elas querem muito e precisam, não há etiqueta social, cara de poucos amigos, impessoalidade e fones de ouvido que as controlem... elas desabafam, elas precisam disso. Então, ela continuou ao me ver esperar na porta do elevador, já aberta e impedida de fechar por mim:

- Eu já tentei parar, mas aí sempre acontece alguma coisa...

Eu esperei por mais, aquilo deveria ser o suficiente para ela. Talvez ela só precisasse de alguém para ouvir seu lamento. Aquela noite ela conseguiria dormir, depois daquele instante. Depois de colocar aquela frustração para fora e ter um desconhecido que a ouvira no elevador de serviço do prédio.

Eu olhei seu rosto, estava em paz. A sua feição era de alguém que batalhou bastante e por alguns segundos se deu um respiro, um pequeno alívio...

Poderia ter deixado a porta do elevador correr, a noite dela estava garantida. Mas, eu não gosto de ver as pessoas em paz. Eu não gosto de ser consolo de ninguém, simplesmente porque sei que não importa o que se faça sempre há uma única conclusão e eu falei com todas as letras enquanto a porta corria:

- A vida é uma merda, não sei por que a gente ainda tenta.

E o elevador se foi, aquela mulher se foi junto com ele. Eu virei as costas, e agora sim, eu poderia dormir em paz.

sábado, janeiro 24, 2015

Poeminha da chegada

Oi, tô em casa já
já já com saudades suas
sua linda
inda agora tava nos meus braços
aço é essa vida longe de você
ocê é linda

quinta-feira, janeiro 15, 2015

Di Melo - Aceito tudo

Apaixonado por isso...

Di Melo- Aceito tudo




Só quem é feio produz coisas tão belas

Eu não sou ninguém
não se deve ler meus fracassos
e é só isso que tem
neste calhamaço

há vidas e momentos
os meus, são erros
uma sucessão de histórias tolas
que não fazem sequer motivo
um joelho quebrado
um problema pulmonar
aulas de natação
um beijo roubado
uma canção mal feita
uma rima que nunca saiu da cabeça
desejos mortos que sequer nasceram direito
placentas guardadas em vidros na estante
esquecidas com o tempo
a certeza da feiura
os nãos das moças
os sim de outras
mesmo em vitórias, as perdas
uma mãe que não se levanta mais e te dá bom dia
duas bandas perdidas
uma história secreta que nem merece ser revolvida

de vez em quando um sereno,
sorrisos, beijos e encantos
aprender a tocar violão
escrever desde não sei quantos anos
conectar-me com outros vivos-sofrimentos
me comunicar sem engano

nada que emergisse do quadro geral
mesmo se um dia produzisse algo lindo
saberia que é condição dos afetados
os desgraçados e amaldiçoados
o tocador de piano com o pé
a flor que brota do cimento
não se deve ter júbilo e ficar acostumado

só quem é feio produz coisas tão belas...