terça-feira, julho 30, 2013

notícias de desgosto

cansado
com mau humor
acabei de ver um filme soco no estômago
personagem desliza moralmente
até o fim trágico sozinho
preciso dizer alguma coisa?
nestes tempos de cinismo cívico
O Papa esteve aqui e não houve
uma linha minha dando-lhe um tapa
ando cansado,
desgostoso
e isso é só o começo
um semestre apenas
e nem acabou ainda
faltam mais sete
falta um oceano inteiro
e milhas esburacadas
notícias do esgoto
do merda que tenho sido
notícias de desgosto
e no meio disso tudo
não tocar meu violão é o que mais dói
Vênus de Milo sem os braços

fenomenal e abominável, o dócil

Um gosto de porco cabelo na boca
um pouco de centelho esvaído
pessoas adentram em meu recinto
pé na porta, chute na cara
dentes à mostra,
eu no canto do espetáculo
sem reação
um membro caído
ou a que costumava ter
cortaram minhas unhas
arrancaram minhas presas
eu sou um lobo dócil
gato castrado
malandro apaixonado
em noites furtivas eu quero mais saber de engordar
pisem em mim, eu sou um tapete
estuprem um capacho que não voa
não mais,
pelo menos não desde a infância
essa ilha enevoada que nunca lembro mesmo
ouço passos, mas é meu coração
são as artérias entupindo
são os músculos retesando
é a vida no seu esplendor
o capítulo derradeiro,
a morte plena ainda respirando
mantenho os olhos abertos
embasbacado e pasmo do que vejo
mas não reajo
não viro mais o piano em cima da primeira fila
não queimo mais meu auto retrato
hoje eu o guardo e penduro ao lado da lareira
as pancadas foram fortes demais e hoje sou só um menino assustado
mal sou isso, na verdade!
sequer consigo sonhar
sequer, descansar
sequer, sorrir de fato
mostrar os dentes
é um ato automático
como respirar
mas de noite,
sozinho no meu quarto
eu finjo que fingi o dia inteiro
eu tiro a maquiagem embaixo da máscara
e paro de olhar qualquer espelho
ou por qualquer óculos
paz?
isso é um sonho
eu sequer durmo!

sábado, julho 27, 2013

Hoje é dia de quebrar promessas

Hoje é dia de quebrar promessas
andar e nadar em águas desconhecidas
um novo capítulo aberto na alma
uma porta que se abre para a vida
mas apesar de todos os sorrisos
eu sei o que tem no fim dessa trilha
eu vejo que são os mesmos passos
que todos seguem, minha família
quer de mim isso e aquilo há anos
eu nem vou conservar a mobília

hoje é dia de quebrar as asas
descer ao purgatório e dizer olá
queridos humanos, corram pras suas casas
não há proteção nem por lá
aceitemos as castas
aqui embaixo é difícil respirar
veja as casas com tantas salas
todas luzes sem brilho de piscar
automaticamente enfermo em brasas
isso vai ser de meu corpo o que sobrar

hoje é dia de quebrar o galho
e rir com a fantasia
tudo que sobrou foram migalhas
do que era poesia
um câncer no meio do asfalto
a vida cada vez mais cinza

hoje é dia de quebrar promessas...
hoje é dia