domingo, julho 07, 2019

João (Gilberto)

E agora João?
A bossa acabou
o som se calou
o público sumiu
o dia não esquentou
e agora, João?
e agora, sem você?
Você que é o Nome
que zomba com os os outros
Você que canta versos
que reclama, ostenta?
e agora João?

o violão não mais é
sem seu canto curto,
sem o banquinho
não existe nem beber
não se para de soluçar
dormir nunca foi o forte
o dia não esquentou
a noite enfim, veio
o cortejo veio
o choro veio
não veio a harmonia
o som acabou
a síncope fugiu
o acorde não tocou,
e agora, João?

E agora, João?
Sua doce palavra
no nosso instante de febre
nossa gula em jejum
sua hipoteca
do cantar de ouro
do terno em linho
que violência
que ódio, - e Agora?

Com o violão na mão
Você abriu a porta
ainda existe a porta
cruzou o mar
mas o mar não te naufragou
Veio da Bahia
Bahia que não há mais!
João, e agora?

Se eu sonhasse
e você aparecesse
e ainda tocasse
a bossa encandenscente
se eu dormisse
e você não cansasse
nem morresse...
Mas você morre
e isto é duro, João!

Ficamos órfãos no mundo
a SAUDADE que CHEGA a jato
com melancolia
da figura sua
para nos encantar,
sem mais seu violão preto
sem mais seu acorde
Você Voa, João!
João, para onde?