domingo, maio 26, 2013

Dona

Um momento...
uma pausa...
uma respiração...
e Ela já não tem mais isso...
um minuto de silêncio pela aquela
quem criou dois mancebos meio sorridentes
que suou a cada presente
mas nunca foi muito de festas e confetes

há rabiscos que quero contar,
uma triste vida longa por demais
faltavam coisas a mais
vivia-se para o quê?
aceitava-se com bom grado qualquer migalha
ria-se de qualquer desgraça
o muro era alto demais para se ver
além de sombras projetadas de prédios velhos


Um minuto de silêncio pela vida triste que levou
uma benção agora que partiu
um desejo de descanso de quem ficou
o fim do ambiente hostil
Ela era uma mulher forte, alegremente dura
tristemente sozinha
tacanhamente prática
e lindamente sobrevivente
na sua lápide deveria vir escrito
morreu trabalhando
uma velha frase
foi-se como nasceu,
em labuta, em desespero e contando os segundos
e os gestos, e o dinheiro
sequer houve alívio quando mais idosa
sequer houve um momento certeiro
e agora foi-se embora
ficou o silêncio
se a vida que embola
nossos caminhos estreitos
não fosse de furar a bola
e de sonhos desfeitos
mas esses ela não tinha na mente
esquecia de contar aos que estavam com ela
que não sabia o que era sorte
só suor, miséria de gente
uma casa entregue ao pó
uma cantiga diferente
sem notas, harmonia, ou solos
apenas silêncio acachapante
silêncio
...
Ela morreu
sem algum alento
em toda a sua vida
que agora
seja como queria
Que dure anos, anos e mais anos
eterno e pacífico descanso

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