Estou em processo de mixagem do novo álbum da minha banda NaLaPa e quem cria coisas novas e as joga no mundo, sabe que tipo de emoção passa pela nossa alma nestes momentos. São sentimentos de angústia, esperança, frustração, tristeza e alegria muito fortes... apreensão. Toda pessoa que sonha e mexe com essa coisa de arte pioneira sabe que é sobre um gelo fino que patinamos. Talvez, todas as pessoas tenham as mesmas sensações em suas vidas cotidianas também, eu acredito nisso e tento, com minha arte, me comunicar com essa parte de suas vidas.
Enfim, este momento que passo é muito sensível, com tudo à flor da pele escancarado no centro da praça. Dúvidas sobre o futuro, pensamentos sobre as rotas que escolhi e me trouxeram aqui, tentativas de rever algumas decisões. Tudo isso passa pela minha cabeça neste momento de criação e principalmente nesta etapa do processo em que chegamos cada vez mais perto de soltar o “filho” no mundo.
Nesta época, qualquer sinal chega com o dobro de intenção e metade dos vestígios. Transformamos uma coisa qualquer corriqueira em algo extraordinário apenas pelo prazer, ou desprazer de estarmos no caminho correto. Todos precisam de um grau de aprovação e reconhecimento e artistas vivem disso...
Dessa forma, transformo uma conversa com um amigo de infância na qual ele vira pra mim e pergunta quando vou fazer sucesso e eu sem hesitar respondo que provavelmente nunca. Nem parei pra pensar e isso me chocou depois, achando que era o universo respondendo por e principalmente, para mim.
E neste estado de espírito terminamos a primeira Mix de uma das canções do álbum. Concomitantemente a isso, fui assistir o documentário “Searching for Sugar Man” que ganhou o Oscar de melhor documentário. História de um artista americano (Rodriguez) dos anos 70 totalmente desconhecido nos EUA que gravou apenas dois LPs , sobre quem ninguém sabia de nada, de onde veio, pra onde foi e que incrivelmente fazia um sucesso estrondoso na África do Sul. Essas coisas que não se explicam...
Aliás a parte mais bizarra da história é que as poucas informações que se tinha dele é que gravara dois LPs, não fez sucesso nos EUA e se suicidou no palco para poucos que assistiam ao seu concerto, ainda no anos 70.
Pois bem, esses dois álbuns de contracultura são extremamente populares na África do Sul de onde dois musicólogos partiram pra buscar quaisquer dados a mais sobre Rodriguez, como viveu, como foram gravados os LPs, as composições...
Nesta hora do filme já tava bem deprimido, pensando em mais um artista que morreu e não viu sua obra ser apreciada e dignificada, como acontece com tantos, especialmente os pioneiros (no filme um sujeito fala que arte é pioneirismo e eu acredito muito nisso). Já estava chegando ao meio do filme e pensei comigo: que merda, é isso que o universo tem a me dizer... faça suas cançõezinhas, viva sua vidinha e quem sabe depois da morte alguém há de prestar atenção a isso.
Então o filme deu uma guinada, em capa de um CD remasterizado dos álbuns antigos, constava informação de que nada se sabia sobre o paradeiro do músico, nem sobre seu nascimento nem sobre a sua morte. Isto levou os musicólogos do filmes à uma busca pelos sujeitos que tinham participado da produção do disco original nos anos 70. O que os levou à notícia de que o músico estava vivo...
Encurtando aqui digo que é lindo o momento que esse músico, o Rodriguez depois de quase 40 anos é ovacionado na África do Sul pessoalmente pelos seus fãs na excursão que ele fez por lá. Lindo, poético... merecido. Eu chorei horrores.
Será que o universo quer me dizer algo diferente dessa vez? Nunca saberei... mas o filme é foda! E a história, emocionante!
Aqui o link do filme em inglês sem legenda que peguei do site La Cumbuca:
Um comentário:
O link não funciona mais, mas eu vou procurar o filme. Para seis anos mais tarde chorar junto contigo.
Postar um comentário