sexta-feira, abril 15, 2011

o monstro ao meu lado

eu o conheci às 9 ou 10 horas da noite
entre uma elevação de sono
e uma reunião de trabalho
todo sorriso, manhoso calmo e sereno
fugaz como o dia que nascemos em nossas memórias

eu o conheci, eu fui até ele
eu só buscava um canto em que sentar
ele queria um beco pra passar adiante seus produtos
fazia o que queria por ali
de todo o andar ele era o verdadeiro cara cheio de assunto

tinha olhos vermelhos e sorria
andava por aí
e fazia jogos de cortinas de fumaças
o chamavam com o sufixo "inho"
era mais carinho e tenro
conseguiu moldar-se em coelhinhos
amáveis, delicados e apaixonantes
.
.
.
eu nunca gostei de coelhos,
uns vizinho os tinham engaiolados
me convidaram para ir vê-los
criança ainda, fui todo fantasia
guiado pela Disney e seus bichos
eles fediam como mendigos
rangia a cela
como demônios querendo visitar a Terra
eu estabeleci contato visual com a que seria mãe de uma cria
me falaram:
essa daí já matou vários filhotes
eu saí emporcalhado de tal sina
.
.
.
ele não parava quieto
sempre tinha assuntos pra comentar
amigos iam lhe visitar
passava a noite toda em elos e paralelos
criando afetos
marcando compromissos
e criando problemas para compromissos alheios

seu jeito carioca-garoto-sedutor-
sei-tudo-do-pedaço enlouquecia
as mulheres, e as bichas
"ai que eu gamo" diziam
quando passava no corredor
trazendo a roubada comida

iamos todos às máquinas
tinhamos cada um código
tirávamos o que nao sustenta nem ração de ratos
ele, sabia todas nuances
todos os códigos
abria a porta mágica e por um instante
trazia embaixo de seus casacos
e distribua entre os outros convidados
e todos comiam
e ele sorria de seu reinado

além disso aquilo era um trocado
nosso reizinho tinha bons contatos
contrabando da melhor zona do pedaço
em sacolas de seu armário
o banheiro vivia infestado
mary juana nas veias e o aço
no concreto do prédio triste e vazio
tantos jovens sepultados

mas ele sorria
e quem vinha até ele?
nossos queridos supervisores
fazer com ele um pouco de seu negócio
ele era charmoso, lindo
mas me dava asco
eu só queria arrebentar seu braço
não eram as drogas, as mulheres ou o escárnio

ele era o espelho do monstro ao meu lado

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