você me vê pela rua
sorrindo e saltitante
acha que sou mais um bambi
que está ali para a sua
vida alegrar
para me tornar
seu alvo
seu nojo
mas não tem como negar
o que você odeia
é o que você vem a desejar
você me vê
parada na esquina
segurando uma bolsa
você pensa
é uma menina
já não seria hora
dessa moça
estar em casa?
mas essa proteção vazia
é falsa
fácil de enxergar
que a rua é mais segura
quando quem está lá
na outra ponta
são as cobras
devoradoras de criancinhas
você me vê aqui em cima
com pouca roupa
se adianta e lamenta
esse menino precisa de escola
mas lá não tem comida
lá só tem vergonha e expulsão
eu ganho mais respeito
com essa arma na mão
ou então,
que se façam mais maracanãs
pois menino pobre
só sai daqui por tiroteio
ou futebol
você passa por mim
e finge que não me vê
tapa o rosto
o nariz
eu é que sei
cada soco
que eu quis
e revidei
embaixo de marquises
fazendo xixi
no corpo
cheirando a esgoto
mais quente pelo menos,
por um segundo
alívio por um momento
todos nós pensamos
sofremos, respiramos
somos humanos
você passa e prefere
nos colocar sentados
como bonecos
de peças já escritas
narrativas cinzas
e histórias já contadas
de velhos escribas
que não sabiam de nada
ou nunca nos perguntaram nada
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